OXÓSSI
O protetor da caça

Irmão de Ogum, Oxóssi tem como domínio as matas e a agricultura, áreas onde melhor pode exercer suas funções de obtentor de alimentos. Habitualmente associado a figura de um caçador, ele passa a seus “filhos” algumas das principais características necessárias a essa atividade: concentração, atenção, determinação para atingir os objetivos e uma boa dose de paciência.

Outro nome pelo qual este orixá é designado deixa clara a sua função no mundo dos deuses místicos iorubas: Odé, o caçador. Irmão de Ogum e de Exu, Oxóssi  é o deus da caça. Assim como o irmão ligado à guerra, Oxóssi também saiu de sua casa. Ao contrario da luta com  outros exércitos, seu combate é o mais cotidiano, nas matas, pelos animais que vão garantir a alimentação de sua família.

Outros são os pontos em comum entre ele e seu irmão mais velho. Assim como Ogum, o conceito de liberdade e de independência em Oxóssi é muito claro em sua personalidade básica. Como o irmão, tem personalidade forte, determinada e empreendedora. Segundo as lendas, também participou de algumas lutas, mas não da mesma maneira marcante de Ogum.

Como orixá, sua responsabilidade principal em relação ao mundo é a garantia da vida dos animais, para que eles possam ser caçados e a alimentação dos seres humanos esteja assegurada. Em alguns ramos do candomblé, também se atribui a ele o poder sobre as colheitas.

Uma das lendas sobre Oxóssi diz que em uma das suas caçadas ele foi enfeitiçado por Ossâim, apesar dos avisos de yemanjá para que tomasse cuidado. Ficando então, sob o controle de Ossâim, ele afastou-se da família até que este encantamento fosse quebrado. Retornando para a mãe, Oxóssi foi recebido por uma Yemanjá intransigente, irritada por não ter sido ouvida pelo filho. Rejeitado por ela, Oxóssi voltou a floresta, para a influência de Ossâim, o que levou Ogum a se rebelar contra a própria mãe, censurando-lhe o comportamento para com seu irmão. Essa autêntica crise familiar foi responsável pelo descontrole de Yemanjá, que, chorando desesperada, desmanchou-se em suas próprias lágrimas e transformou-se num rio que corre para o mar.

Segundo Pierre Verger, o culto a este orixá é bastante difundido no Brasil, mas sua figura é pouco lembrada na África, onde praticamente não tem filhos. Esse processo de esquecimento, segundo o pesquisador francês, deve-se ao fato de Oxóssi ter sido cultuado basicamente no Keto – onde a receber o título de rei. Este país, no século XIX, foi praticamente destruído e saqueado pelas tropas do rei Daomé. Seus habitantes (inclusive o grande número de iniciados de Oxóssi) foram então transformados em escravos, vindo a ser vendidos tanto no Brasil como nas Antilhas. Conta Verger: “Chegou-se a tal ponto que, embora existindo ainda em Keto os locais onde Oxóssi recebia outrora oferendas e sacrifícios, já não existem atualmente pessoas que saibam ou desejam cultuá-lo”.

Como não poderia deixar de ser, o símbolo de Oxóssi é um arco e flecha, geralmente em ferro. O “tipo Oxóssi” geralmente é associado às pessoas joviais, rápidas e esperta, tanto mental como fisicamente. A postura é a de um caçado a espreita na floresta, evitando fazer barulho e de olhos e ouvidos extremamente atentos ao movimento da caça. Tem, portanto, grande capacidade de concentração e de atenção, aliada a uma firme determinação em alcançar seus objetivos e paciência para aguardar o momento correto para qualquer iniciativa.

Os filhos de Oxóssi: solitários e perseverantes

Essas características reforçam a ligação que é feita entre Oxóssi e Ogum. Assim coo o segundo, seu corpo é esguio, atento e pronto para o combate. Mas sua luta é mais baseada na necessidade e no cotidiano da busca da alimentação  – ou, num sentido mais amplo, no desempenhar das tarefas costumeiras do dia-a-dia – , do que nos grandes rompantes das ações  militares. Da mesma maneira, tem a força de Ogum, mas sua violência, se existe, é canalizada e represada para o movimento certo na hora certa. Não tem o temperamento incontrolável do irmão nem suas alterações de humor. É também mais reservado, se bem que não lhe falte energia para o comando quando preciso.

Tem uma tendência maior para solidão, para o desempenho solitário de suas funções. Ao mesmo tempo, é marcado por um forte sentido do dever e uma grande noção de responsabilidade. Afinal, recai sobre ele, miticamente, o peso do sustento da tribo. O filho de Oxóssi teria, então, uma forte ligação com mundo material, sem que essa tendência denote obrigatoriamente ambição. Tende a assumir responsabilidades e a organizar o sustento do grupo ou da família a que pertence. Podem ser paternais nessa preocupação, mas sua ajuda se realizará preferencialmente distante do lar, trazendo as provisões ou trabalhando para que elas possam ser compradas, e não no contato íntimo com cada membro da família, já que compartilha com Ogum certa incapacidade (mais controlada) de se fixar num mesmo lugar e um gosto pelo novo e pelo desconhecido.

Fisicamente, os filhos de Oxóssi tendem a serem relativamente magros um pouco nervosos potencialmente, mas controlados. Seus olhos são vivos e atentos; seus passos, leves. Sua movimentação tem certa graça e leveza. São instáveis em seus amores, já que têm necessidade da solidão.

Uma diferença fundamental de Oxóssi em relação a Ogum é sua necessidade de refinamento, não necessariamente de luxo. A vaidade é uma de suas características, e o vestuário, apesar de prático, não se contenta com o conforto funcional das roupas do tipo Ogum, mas busca certa harmonia estética, discreta, porém inovadora.

Nome: Oxóssi
Filiação: Yemanjá e Oxalá
Atividade: caça (alimentação por extensão)
Domínio: matas (e campos de agricultura por extensão)
Cores: azul-claro (na umbanda verde)
Saudação: Okê! (ou Okê Arô)
Comidas: axoxó, feijão-fradinho torrado, inhame, feijão-preto.
Sacrifício: bode, porco, galo.
Dia: quinta-feira
Sincretismo: S. Jorge (Bahia) e S. Sebastião (Rio e Porto Alegre)