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Mais uma linda estória de terreiro…

Bom dia povo de umbanda!
Segue uma,dentre várias estórias iguais que acontecem constantemente em nossa trajetória de evolução.
“Faz caridade filho, faz caridade filho!”
Assim eram as falas de Pai Joaquim,repetidamente á cada noite de consultas…
Não era a primeira vez que aquele consulente ouvia os mesmos conselhos do Pai Joaquim, já haviam se passados seis meses desde o primeiro dia que aquele senhor tinha adentrado ao terreiro para se consultar, passando a fazer parte da assistência, sempre voltando á casa para tirar suas duvidas.

Naquele dia ele estava decidido,iria perguntar ao vô Joaquim,(como meu preto velho é chamado por todos),porque toda vez que falava com ele escutava o mesmo conselho? será que como espírito não estava vendo que ele já estava fazendo sua parte?
Esperou ansioso a sua vez de ser atendido e sua senha custou á chegar, aquela noite seria especial, seria diferente das outras, aquele encontro marcaria uma nova etapa no caminhar daquele consulente.
Como sempre fazia, mais por repetição do que mesmo por convicção, se ajoelhou diante do preto velho e foi dizendo:

Benção Pai Joaquim, hoje venho lhe pedir uma explicação para melhor entender o que o senhor me diz.
Oxalá te abençoe meu filho! eu fico feliz com sua presença e gosto de “prosear”com todos os filhos que aqui vem.

Meu vô, como o senhor mesmo sabe já faz algum tempo que venho á esta casa e falo com o senhor, como já lhe disse não tenho uma situação financeira ruim, ao contrário, nunca tive problemas dessa ordem o que sempre me facilitou uma vida com fartura e bem-estar desde a infância.
Certo meu filho, eu já tenho “cunhecimento” de tudo isso que ocê falou.
É meu vô, por essa razão gostaria de lhe perguntar porque o senhor toda vez que fala comigo me aconselha a fazer a caridade? o senhor não já sabe que faço isso todo mês, entregando gêneros alimentícios aos que estão carentes? além do que, na minha empresa mantenho uma creche para os filhos dos meus empregados para que assim possam trabalhar com mais tranqüilidade.
Por isso gostaria que o senhor me explicasse o porquê desse conselho, dentro da minha consciência cumpro com meu compromisso.
É verdade meu filho, tudo isso que ocê falou prá mim, faz parte de seu compromisso e ocê cumpre direitinho sua parte, porém filho, esse compromisso faz parte de seu social.
Ocê alimenta o corpo material que precisa de sustentação prá ficar de pé, pois se não for assim filho tem prejuízo, só que o filho também precisa distribuir o pão espiritual e assim fazer a caridade.
Não entendi meu vô seja mais claro? que caridade espiritual é essa?
É a mesma que esse meu aparelho faz aqui no terreiro,ocê precisa assumir sua condição de médium e começar á praticar este dom.
Espantado, disse o consulente: como é que é Pai Joaquim, o senhor está me dizendo que tenho compromisso com a mediunidade na umbanda é isso?
É isso sim, meu filho,ocê tem compromisso com essa banda.
Ante as muitas verdades que ele já tinha ouvido, nunca uma afirmação estava tanto á lhe remoer a alma, como seria possível? achava a umbanda linda, gostava do cheiro das ervas e do cachimbo dos pretos velhos, mais daí então a ser médium era demais para ele.
Mesmo de forma acanhada buscando aparentar tranqüilidade aquele senhor disse ao vô:
Meu vô, acho que há um equívoco, pois nunca senti nada á respeito desta tal de mediunidade.
Não sentiu, porque se prende e que não quer dizer ou ocê acha que nós num vê?; não vê o companheiro de aruanda que lhe acompanha e que hoje está dando autorização prá fazer esse conversado?
Meu filho diz que gosta do cheiro das ervas e desse terreiro,o que é uma verdade , mas o que filho não se vê é dobrando o corpo para prestar a caridade, deixando assim que seu preto velho também lhe traga lições para seu caminhar.
Então meu filho, enquanto ocê não entender, preto véio vai continuar repetindo o conselho: faz caridade filho, faz caridade filho,mesmo que tenha que arrepetir isso por muitas vêis, pois água mole em pedra dura filho, tanto bate inté que fura.
Olha minino! eu tenho um compromisso moral com esse companheiro de aruanda que te acompanha e te agaranto que não será de minha parte que não será cumprido. Pensa no que esse véio te falou e dispôis vem prosear novamente, pois o passo de véio é miudinho e devagarzinho, só tem uma coisa minino: o tempo corre e espero que ocê queira aproveitar enquanto tá desse lado de cá!

Aquele consulente se levantou da frente de Pai Joaquim, sem dizer mais nenhuma palavra, seria preciso tempo para digerir tudo que ele tinha ouvido.
Oito meses se passaram depois daquela conversa,o consulente nunca mais nos visitou e ninguém no terreiro tinha mais visto novamente aquele consulente na assistência.
Era mais um sábado de festa de pretos velhos, os pretos e pretas velhas estavam em terra e Pai Joaquim olhava para a porteira do terreiro como se estivesse á esperar por alguém e assim cantarolava bem baixinho:
“Acorda cedo meu filho, se com velho quer caminhar, olha que a estrada é longa e velho caminha devagar, é devagar, é devagarinho quem anda com preto velho nunca ficou no caminho”.
Acostumados com o batuque alto da curimba os filhos de santo não conseguiam perceber que naquele dia Pai Joaquim cantava e a sua entonação estava mais dolente, mais um filho de Zâmbi venceria uma etapa, mais um seria libertado.
E foi olhando para a porteira que Pai Joaquim viu aquele senhor adentrar no terreiro, com os olhos rasos d’água e de joelhos se postar assim dizendo: Pai Joaquim, se é verdade que tenho essa tal de mediunidade, aqui estou eu para aprender a fazer caridade, nesses 8 meses que fiquei afastado daqui, minha vida perdeu a alegria, relutei muito para chegar aqui novamente e não nego que fugi por vergonha e medo,e se ainda houver tempo…
Aquele consulente nem chegou a ouvir a resposta do Pai Joaquim…do seu lado já se encontrava uma entidade,apresentando-se como preto velho, que de forma doce e amorosa assim falou:
Meu filho á quanto tempo espero por esse momento, por esse reencontro,vamos trabaiá meu filho nas bênçãos de Zambi e na fé de Oxalá!
Diante dos filhos daquela corrente, aquele homem branco, de olhos claros, quase azuis, alto, dava passagem nesse momento á mais um preto velho e foi curvando aquele corpo que se ouviu a voz da entidade assim dizer: Bendito e louvado sejam o nome de nosso Pai Oxalá! Saravá Pai Joaquim,Pai Benedito se faz presente nesse Congá!

E daquele dia em diante mais um filho começava a sua caminhada,mais um chegava á corrente de nossa casa…